"Quando lembro o quanto algumas  pessoas 
me ajudam com o seu olhar amoroso, ao longo da estrada, sinto um  
ventinho bom percorrer meu coração e arrepiar a vida toda de  contentamento. Um ventinho quente, parecido com o que toca a minha pele  quando caminho na beira da praia nas manhãs azuis que ainda se  espreguiçam. 
A pele é o lado de fora do sentimento. 
Quando  lembro de cada nova muda de afeto que recebo e vejo florescer  devagarinho no meu jardim, a lembrança afasta as nuvens momentâneas e  deixa o céu à mostra. Faz um sorriso sereno acontecer em mim. Acende uma  música que a gente só consegue ouvir quando a palavra descansa.
Quando  lembro que crescer é, no íntimo, um exercício solitário, mas que não  estamos sozinhos na sala de aula, saboreio o conforto dessa recordação.  Somos mestres e aprendizes uns dos outros, o tempo todo. Estudamos, lado  a lado, inúmeras lições, mas também criamos espaço para celebrar os  mágicos momentos de recreio. Às vezes, com alguma leveza, até  descobrimos juntos um segredo libertador: o aprendizado e o recreio não  precisam acontecer separados. 
Quando  lembro o quanto as nossas vidas se entrelaçam amorosamente com outras  vidas nessa tapeçaria de fios sutis dos encontros humanos, a gratidão  emerge e se espalha, em ondas de ternura, por toda a orla do peito.  Diante de tantas incertezas, essa verdade perene: o amor compartilhado é  o sábio curador.
Quando lembro, eu agradeço. E respiro macio."
(Ana Jácomo)